quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"Anjos" (Pra quem tem fé)

1) A banda

Zelar a revelação das várias faces dos dilemas brasileiros. Talvez seja essa a missão velada das composições da banda “O Rappa”. O nome escolhido para batizar o grupo já aponta o cuidado com várias questões sociais. Marcelo Lobato - integrante da banda - explica a origem do nome: “Quem sacramentou a parada foi um amigo da gente, que é uma figura folclórica lá de Santa, o Zulu. O nome veio a calhar… tudo a ver com o som que a gente tava fazendo na época. Aí a gente já associou com a coisa da rua. Chamam de ‘rapa’ os caras que fiscalizam os ambulantes no Rio de Janeiro, os caras que recolhem a mercadoria, enfiam a porrada, enfim, aquela coisa horrível. Tem a ver com a coisa do rap também, e aí a gente colocou um outro ‘P’ só pra não confundir.”

                                         Capa do novo cd - Arte do paraibano Mike Deodato Jr.

O repertório do quarteto - Marcelo Lobato (bateria), Xandão (guitarra), Lauro Farias (baixo)  e Marcelo Falcão (Vocalista) – passeia por vários temas que promovem reflexões compromissadas com as lutas cotidianas. Nas suas letras são contadas histórias daqueles seres que vivem nas entrelinhas, dos que lutam bravamente para conquistar o direito mais básico: viver com dignidade.
O grande trunfo presente nas canções d’O Rappa consiste na demonstração do quão forte é a fé que nos movimenta. “Reza Vela”, “Minha alma”, “Meu santo tá cansado”, “Súplica Cearense” e “Pescador de Ilusões” são algumas amostras de canções com nomes sugestivos que comprovam a crença em tal potencial. 



2) A composição
 (Marcelo Falcão)

"Essa música é uma declaração de superação. Há pouco tempo O Rappa ia acabar, tivemos problemas com empresários e ficamos afastados por mais de um ano. Mas o que eu tinha era fé para que voltássemos a sermos amigos. E a música 'Anjos' veio para nos reerguer e selar a união", disse o compositor em entrevista para o Uol.
A história do novo disco fala sobre a história da banda – superação. A gente tava vendo nossa carreira ser conduzida de uma forma não legal. E não dava tempo de gritar porque tinham muitos shows marcados. Nós passamos por um processo difícil em que eu e o Xandão ficamos sem falar pelo menos metade da turnê. A gente tinha certeza que o melhor seria dar um tempo. Forçamos um pouco as nossas férias, cada um foi pra um canto e nesse momento aconteceram várias coisas em minha vida” conta Falcão na série de vídeos “Pra quem tem fé” disponível no canal da Warner Music no Youtube.
                                Assista a série "Pra quem tem fé" no canal da Warner no Youtube

“A minha família religiosamente falando é católica, mas eu acredito na fé. Minha fé não tem religião, ela abrange tudo – ela vai conversar com macumbeiro, evangélico, católico, etc. Quando eu precisava de uma resposta para saber se a banda ia acabar ou não foi quando já tinha passado um ano e aconteceram muitas coisas –meu noivado acabou, minha banda acabou. E eu não sou um cara deprê, sou um cara muito “up”. Foi uma hora que eu comecei a usar mais o estúdio que tenho em minha casa. [...] A primeira pessoa que eu mostrei (a composição)  foi para minha mãe – ela ficou um tempão sem falar no telefone, chorando.” – revelou o autor da música.

      Lauro Farias, integrante da banda relata que:
 “A história dessa música ao meu ver é relacionada a fé espiritual de cada ser humano. Nós vivemos dias tão loucos, estamos sempre sob a iminência de que alguma coisa não está legal e a vida não é assim. Nós estamos vivendo um momento muito delicado em que a banalização da vida é eminente. Ela intitula o lance de você buscar um lugar em que você possa raciocinar, ter felicidade plena. Eu sinto necessidade de ouvir  essa música toda hora, nunca aconteceu algo desse tipo antes.”
      O novo trabalho celebra uma vitória. Como bem disse Falcão: “Este cd é uma história de luta. Amor ao “Rappa” em primeiro lugar!”

3) A letra

Oh Lord, oh Lord, oh Lord, oh Lord
Lord, Lord, Lord, Lord
Oh Lord, oh Lord, oh Lord, oh Lord
Lord, Lord, Lord, Lord

Em algum lugar, pra relaxar
Eu vou pedir pros anjos cantarem por mim
Pra quem tem fé
A vida nunca tem fim
Não tem fim
É

Se você não aceita o conselho, te respeito
Resolveu seguir, ir atrás, cara e coragem
Só que você sai em desvantagem se você não tem fé
Se você não tem fé

Te mostro um trecho, uma passagem de um livro antigo
Pra te provar e mostrar que a vida é linda
Dura, sofrida, carente em qualquer continente
Mas boa de se viver em qualquer lugar
É

Volte a brilhar, volte a brilhar
Um vinho, um pão e uma reza
Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas

Em algum lugar, pra relaxar
Eu vou pedir pros anjos cantarem por mim
Pra quem tem fé
A vida nunca tem fim
Não tem fim

Podem até gritar, gritar
Podem até barulho então fazer
Ninguém vai te escutar se não tem fé
Ninguém mais vai te ver

Inclinar seu olhar sobre nós e cuidar
Inclinar seu olhar sobre nós e cuidar
Inclinar seu olhar sobre nós e cuidar
Inclinar seu olhar sobre nós e cuidar

Pra você pode ser
      A fé na vitória tem que ser inabalável

4) Minha história com a música

Tenho cultivado uma espécie de conexão com os anjos no cotidiano: no momento em que acordo, direciono o meu olhar para o Céu, observo o verde da natureza que consigo alcançar e mantenho os pés firmes no chão. O desdobramento do ato me dá a noção do quão grande este mundo é.
Convivo com a arte de transformar o ambiente em que transito em lugar sagrado. Um constante desafio toma conta desta mente hiperativa: ter um momento de introspecção para conseguir conectar minha essência com todos os guias espirituais que me cercam. Quando escuto o trecho “Inclinar seu olhar sobre nós e cuidar” me imagino de braços abertos recebendo emissões de ondas energéticas muito fortes. Meu corpo inteiro vibra no momento em que escuto cada sílaba dita – nesta parte da música, a experiência torna-se surreal. Sinto raios solares movimentando toda minha região torácica!
 Entretanto, mesmo ciente do êxtase, tenho que me policiar: com medo de perder algum trecho da viagem neste mundo movido por tanta pressa, acabo dando mais valor à ação do que a oração. Falha minha, falha nossa.
Inseridos em uma realidade de discursos religiosos tão incoerentes com a verdade que impulsiona o coração, somos movidos por dias que colocam em descrédito a nossa fonte de abastecimento.
Hoje eu me recuso acordar e ligar o piloto automático. Antes do “Play”, que venha a contemplação do “Pause” da introspecção, quero optar pela conexão da gratidão com minhas preces, quero a lapidação dos meus potenciais e a clareza na percepção dos meus objetivos. E, por fim, quero ter a consciência de que só no momento em que estiver conduzido pela oração, poderei encontrar plenitude na ação.
É preciso buscar constantemente serenidade para conduzir esta vida que é “dura, sofrida, carente” de olhares alimentados pela fé.
Dia sim, dia não, me deparo com pessoas que estão perdendo aquilo que há de mais precioso no ser humano: o brilho no olhar. Vejo vidas engessadas, olhares opacos conformados com o tom cinza dos dias ruins. Gente que não vive, apenas sobrevive.
Não preciso ir longe para retratar minha preocupação: há algumas semanas ao bater na porta da casa de uma amiga, me vi diante de suas lágrimas portadoras de uma profunda angústia.
O motivo: a escravidão da vida de concursos. Refém da rotina de estudos há um bom tempo, calejada pelas pedradas, ela anda em torno da dura espera daqueles que procuram seus nomes na lista de aprovados.
Sei o quanto esse processo é doloroso. Entretanto, nos compete a seguinte missão: colorir o longo percurso que precede a linha de chegada. 
Infelizmente, nos deparamos com notícias de pés cansados que desistiram da corrida no meio do caminho. No mês passado fui impactado com a ligação que revelou o suicídio de um colega de infância. 27 anos, prestes a concluir o curso de Medicina, ele resolveu antecipar sua passagem. A pergunta disparou na minha mente: Por quê? Logo em seguida, respirei fundo para colocar em prática a lição que aprendi: não tenho o direito de projetar respostas alheias de acordo com minhas convicções. Além dele, a causa também foi sepultada. Quero manter longe de mim os questionamentos sobre a realidade que não pode ser mais mudada!
Escutei o verso “Volte a brilhar” no dia de sua morte. Queria ter tido a chance de dizer isso pra ele. Acredito que temos o poder de ofertar o colírio certo para dilatar a visão dos que convivem conosco.
Faço minhas as palavras de Fabio de Melo em seu livro “É sagrado viver”: “Eu tenho pedido a Deus a graça de perceber os que sofrem em segredo. Fico atento. Neste tempo tão marcado pela pressa, eu me esmero para ler nos silêncios as dores escondidas”.
Com base em tais razões, sou movido a cantarolar para minha amiga e para tantos que vivem o tempo de espera: Voltem a brilhar enquanto há tempo. Abasteçam-se de vinho, pão e reza. Abracem a Lua e o Sol. Abram as portas e o campo de visão: queiram preencher os detalhes do cotidiano com as cores mais vivas, pois, afinal de contas, “o mundo é bão, Sebastião!”.


                                                           Confira o Clipe da música!

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3 comentários:

  1. Quanto mais o tempo passa, mas vc me surpreende...SALVE meu santo!!!Saudades mil!!:**
    Germana Leitão

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  2. Que leitura da música!!!
    Merece todo respeito, realmente inspirador.

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  3. que texto show em.
    da ate para fazer uma musica.

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